Domingo da Quadragésima
PRÆLEGENDUM (Sl. 90, 15-16.1)
V. Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele. Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória. Será favorecido de longos dias, e eu lhe mostrarei a minha salvação.
R. Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém.
Hino
Ó Pai, nesta Quaresma, ouvi nossos pedidos: na mais contrita prece nos vedes reunidos.
Sondais as nossas almas, na fé tão inconstantes: se para vós se voltam, mudai-as quanto antes.
Pecamos, na verdade, tão longe da virtude: Senhor, por vosso nome, a todos dai saúde.
Fazei que nosso corpo, enfim disciplinado, o dia todo fuja da culpa e do pecado.
Que o tempo da Quaresma nos leve à santidade, e assim louvar possamos a glória da Trindade.
📖 Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 4, 1-11.
Naqueles dias, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás. Então, o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos e o serviram.
Te louvamos, Senhor!
Homilia de São João, bispo de Saint-Denis
para o Domingo da Quadragésima
São Jerônimo e São Leão Magno colocam a origem da Quaresma de 40 dias, ou Grande Quaresma, na tradição apostólica.
A maioria dos historiadores modernos não compartilha da opinião dos dois doutores da Igreja Ocidental. Consideram que a prática do jejum quadragesimal só aparece no século IV. Os enquadramentos deste artigo não se prestam ao desenvolvimento e à crítica desta tese; além disso, mesmo que a Quaresma pré-pascal de 40 dias não tenha começado antes do século IV, isso em nada mudou o problema de sua verdadeira origem.
A origem deste ou daquele costume na Igreja não pode ser apreendida apenas por uma classificação cronológica de alguns documentos dispersos de tempos passados; para não falar da vasta tradição não escrita, muitas vezes silenciosa e ao mesmo tempo viva e tenaz, difícil de apreender pela crítica histórica e em que os vestígios palpáveis são apenas gotas de água no oceano, os documentos do primeiro século podem apresentar apenas um interesse desprovido de valor apostólico, enquanto alguns, mais recentes, testemunharão uma tradição primitiva.
Não confundamos os acontecimentos dos tempos apostólicos com a tradição apostólica. Os pentecostais, por exemplo, que procuram reviver os carismas surgidos após a descida do Espírito Santo reconstruindo os tempos apostólicos, não estão enraizados na tradição, aparecem como um produto específico dos tempos modernos, limitando-se à Reforma do 16º século.
A tradição apostólica, a dos Doze, não é uma data histórica, mas a plenitude e o cumprimento da verdadeira tradição universal.
A Quadragésima como período de purificação, de renovação, de provação, de luta espiritual, de abstinência, anterior ao dia da revelação, do novo nascimento, da ressurreição, tem suas raízes na tradição da humanidade. De fato, é praticado tanto na Bíblia quanto nas religiões antigas. O calvário quadragesimal da alma após a morte que encontramos no ensinamento da Igreja Ortodoxa, com suas quarenta missas pelos defuntos, era conhecido dos egípcios e orientais. Os 40 dias de Cristo ressuscitado passados na terra, antes da sua Ascensão, selam esta tradição. Os 40 dias de purificação de uma mãe, coroados pela festa do Santo Encontro, fazem parte dos costumes de vários povos. A duração do tempo pode variar: 40 anos, 40 dias, 40 horas ou até 40 vezes uma oração, por exemplo 40 vezes: "Senhor, tenha piedade!" nos serviços orientais, mas o número 40 não varia, mantendo sempre o mesmo significado espiritual preciso.
A Palavra divina nos fala muitas vezes e em várias formas da preparação quadragesimal:
- 40 dias e 40 noites, Deus purifica e renova o mundo pelas águas do dilúvio antes de firmar uma aliança com a Igreja Noaquita (Gn 7, 12-17).
- 40 anos, o povo de Israel, a caminho da Terra Prometida, é conduzido pelo Senhor pelo deserto (Dt 2,7; 39,5) e alimentado com o maná celestial (Ex 16,33).
- Mais 40 anos, segundo a ordem do Eterno, o povo revoltado viverá no deserto: "Por 40 anos sofrerás a pena das tuas iniqüidades, diz o Senhor" (Nm 14, 33-34).
- 40 dias e 40 noites, Moisés permanece no monte santo, longe de sua família e perto de Deus, para receber os Mandamentos (Ex 14, 18; 34, 28).
O profeta Amós (2,10), o profeta Neemias (9,21) e o salmista (Sl 95,10) comentam e relembram as quarentenas do Êxodo.
- 40 dias e 40 noites sem comer nem beber, Elias avança sobre Horebe, o monte de Deus, rumo à manifestação do Senhor no murmúrio suave e sutil (1 Rs 19, 8).
“Mais 40 dias e Nínive será destruída” proclama o profeta Jonas, obedecendo à ordem do Eterno, mas o povo de Nínive jejua, veste-se de saco e cinza por 40 dias e Deus perdoa (Jonas 3).
Todos esses textos sagrados e esses mistérios quadragesimais do Antigo Testamento se unem e se unem nos 40 dias de jejum e tentação no deserto de Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 1, 13; Lc 4, 21).
É essencial notar aqui que os 40 dias de jejum de Cristo, ao contrário da tradição universal e dos exemplos bíblicos, não precedem o evento glorioso de seu batismo e a manifestação de sua divindade, mas o seguem. Esta exceção à regra é facilmente explicada. Noé, Moisés, Elias, Israel e os outros povos são criaturas para quem os 40 anos ou 40 dias representam uma ascensão para Deus através da purificação e penitência. Deus encarnado, homem sem pecado, não precisa de uma ascensão purificadora, mas testemunha sua condescendência e seu rebaixamento.
A iniciação cristã e o batismo refletem fielmente o batismo de Cristo, não apenas pelo gesto de imersão em nome da Santíssima Trindade, como alguns gostariam, mas pelo contexto evangélico. A luta com o diabo, o jejum, o deserto são inseparáveis do batismo de Nosso Senhor e organicamente unidos. Assim, no rito batismal, encontramos a tripla renúncia à Satanás e os exorcismos. Os catecúmenos dos primeiros séculos se preparavam por 40 dias com instrução e jejum para a solenidade do batismo. Sim, o batismo cristão reproduz na verdade o de Cristo como em um espelho, conforme a lei do reflexo: fiel e oposto. Cristo é batizado e jejua, o homem jejua e é batizado. Cristo desce e o homem sobe. O batismo assume aqui o ritmo bíblico: o jejum e a luta contra a tentação precedem o evento glorioso.
Originalmente, a Quaresma quadragesimal era o tempo de preparação dos catecúmenos para o batismo; o que era feito no Sábado Santo, porque o batismo é nossa morte e nossa ressurreição em Cristo (Rm 6,34; Col 2,12,10,2; Gal 3,27).
As cerimônias da Grande Quaresma expressam essa preparação até hoje, mais acentuada no rito ocidental, mais difusa no Oriente. No entanto, na Quaresma, o Oriente acrescenta a ectenia (litania) dos “iluminados”. O comovente rito da bênção com a luz dos fiéis prostrados durante a Missa dos Pré-Santificados, acompanhado das significativas palavras: "A Luz de Cristo ilumina tudo!", dirige-se, em primeiro lugar, àqueles que são instruídos na doutrina cristã antes do batismo.
O serviço do Sábado Santo é tanto o serviço solene do batismo quanto a vigília da Ressurreição de Cristo. De fato, a leitura das 15 lições do rito ocidental ocorre enquanto os neófitos cercam o batistério. No Oriente, a canção “Todos vocês que foram batizados em Cristo se revestiram de Cristo!” em vez do Trisagion, a mudança de ornamentos (isso em ambos os ritos), todo o Evangelho de Mateus, capítulo 28 e, no Ocidente, a bênção da pia batismal e das coletas, para citar apenas alguns exemplos, visam diretamente o batismo.
Até o século IX, uma série de concílios ordenava ou aconselhava batizar as crianças na Páscoa e especialmente no Sábado Santo. O jejum quadragesimal pré-pascal era de fato o jejum dos catecúmenos na Igreja primitiva.
L'origine de la Quadragésime. Saint Jean de Saint-Denis.
🙌🏼 Litania pela Igreja
Digamos, com todo o nosso coração e de todo nosso espírito: Senhor, escuta-nos e tem piedade de nós: Kyrie eléison!
Pela paz que vem do alto, a tranquilidade dos tempos, pela santa Igreja que se estende até os confins da Terra, e pela união de todos, oremos ao Senhor.
- Kyrie eléison!
Pelo nosso bispo Primaz, Gregório de Arles e de toda a Igreja da Gália, por nosso bispo Jonas, exarca do Brasil, por todos os bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, e por todos os nossos irmãos e irmãs em Cristo.
- Kyrie eléison!
Por este santo templo, por esta cidade e seus habitantes, pelo nosso amado país Brasil protegido por Deus, seu governo e força de segurança, para que Deus lhes conceda sabedoria, e que assim vivamos em paz, na justiça e liberdade, oremos ao Senhor.
- Kyrie eléison!
Pelos magistrados, monges, virgens, viúvas e órfãos, por todas as famílias, pelos que sofrem sobrecarregados por trabalhos pesados, oremos ao Senhor.
- Kyrie eléison!
Por tempos pacíficos, pela fecundidade dos campos, abundância dos frutos da terra e pela salubridade do ar, do solo, da água e do espaço, oremos ao Senhor.
- Kyrie eléison!
Pelos penitentes, catecúmenos, pelos que buscam a Deus sem poder, contudo, nomeá-lo, pelos que ainda não o buscam e resistem à sua graça, oremos ao Senhor.
- Kyrie eléison!
Pelos confessores do bendito Nome de Cristo, pelos perseguidos, pelos torturados e pelos que torturam; por nossos benfeitores, por nossos irmãos e irmãs ausentes, pelos viajantes em perigo e pelo feliz regresso de todos, pelos que sofrem enfermidades, (em particular por NN. ...) e pelos que estão atormentados pela tristeza, angústia e espíritos impuros, oremos ao Senhor.
- Kyrie eléison!
Por nossos pais e irmãos falecidos que repousam piedosamente aqui e em toda parte do mundo, (em particular, por NN. ...) e por todos os nossos irmãos e irmãs falecidos, para que recebam o perdão de seus pecados e a vida eterna no reino dos céus, oremos ao Senhor.
- Kyrie eléison!
Para que nos cumule de sua graça por intercessão da Santa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, de São João Batista, o Precursor, de São Miguel Arcanjo e de todos os anjos, dos apóstolos, mártires e confessores, de São Nicolau de Mira, padroeiro de nossa Fraternidade, de São João, bispo de Saint-Denis, patrono de nossa Igreja, e de todos os santos, supliquemos ao Senhor!
- Concede, ó Senhor!
Para que nos conceda o perdão e a remissão de nossos pecados e culpas e uma morte cristã e pacífica, supliquemos ao Senhor!
- Concede, ó Senhor!
Para que nos guarde na santidade e na pureza da fé católica ortodoxa, supliquemos ao Senhor!
- Concede, ó Senhor!
Digamos todos, com todo o nosso coração e de todo nosso espírito:
Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison!
Pai Nosso...
🙏 Oração
(Cf. Oração da Coleta da Divina Liturgia Galicana)
Ó Jesus, Tu que és a Imagem da Glória inacessível do Pai, Protótipo e Artesão da criatura em sua beleza primordial e Restaurador de nossa natureza decaída; por Tua vitória sobre o príncipe deste mundo, ó Ressuscitado, preenche, nós Te suplicamos, Tua Igreja de esplendor da graça do Espírito Santo, dominando os ataques heréticos e atropelando a sedução mortal do inimigo, ó tu que vives e reinas com Pai e o Espírito, pelos séculos dos séculos. Amém.
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