Reflexão ao Evangelho do 23º Domingo após o Pentecostes
PRÆLEGENDUM (Jr. 29, 11-12,14; Sl. 84,2)
Coro: Assim diz o Senhor: Meus pensamentos são de paz e não de aflição. Clamai por
mim e eu vos ouvirei. Reconduzir-vos-ei de vosso cativeiro de todos os lugares.
V/: Abençoaste, Senhor, a tua terra.
Coro: Livraste Jacó do cativeiro.
📖 EVANGELHO de Jesus Cristo, segundo São Mateus 9,18-26
Naqueles dias, enquanto Jesus lhes dizia estas coisas, eis que um príncipe (da sinagoga) se aproximou dele, e o adorava, dizendo: Senhor, morreu agora minha filha; mas vem, põe a tua mão sobre ela, e viverá. E Jesus, levantando-se, o seguiu com seus discípulos. E eis que uma mulher, que, havia doze anos, padecia um fluxo de sangue, se chegou por detrás dele, e tocou a fímbria do seu vestido. Porque dizia dentro de si: Ainda que eu toque somente o seu vestido, serei curada. E, voltando-se Jesus, e, vendo-a, disse: Tem
confiança, filha, a tua fé te sarou. E ficou sã a mulher desde aquela hora. E, tendo
Jesus chegado à casa daquele príncipe (da sinagoga), e, tendo visto os tocadores de
flauta e uma multidão de gente, que fazia muito barulho, disse: Retirai-vos, porque a
menina não está morta, mas dorme. E eles o escarneciam. E, tendo-se feito sair a
gente, ele entrou e tomou-a pela mão, e a menina levantou-se. E divulgou-se a fama
(deste milagre) por toda aquela terra.
Te louvamos, Senhor!
🙋🏽♂️ REFLEXÃO
Duas histórias em uma história. O da filha de Jairo e o da mulher com sangramento. Um detalhe, aparentemente insignificante, pode nos alertar sobre o que está em jogo nessas duas mulheres: a menina tem 12 anos (Mc. 5,42); a perda de sangue da mulher já dura doze anos. O sangue flui da mulher; a vida escapa de seus dedos. A mulher é atacada na fonte da vida, em sua capacidade de dar vida. A jovem não passa do curso de deixar a infância, de se tornar mulher, de dar a vida por sua vez.
Com eles, dois tipos de homem: o chefe da sinagoga, que é o pai da menina, de nome Jairo (Mc. 5,22), e os médicos, que sugam o dinheiro da mulher sem nenhum resultado para ela. Eles são impotentes para curar essas mulheres. Nem a religião nem a ciência médica podem enfrentar o desafio. A verdadeira questão escapa deles.
Para ambas as mulheres, é urgente. É uma questão de vida ou de morte. Para ambas, Jesus parece ser o último recurso. E Jesus concorda em aventurar-se neste pedido. Ele aceita o pedido do pai. Ele vai para a sua casa. Pelo caminho, outra forma demanda chega-lhe. Desta vez o pedido não é feito através de palavras. A mulher que está a perder sangue rompe a barreira da multidão que rodeia Jesus. Ela só tem uma ideia em mente: tocar-lhe, pelo menos a sua roupa, pelo menos uma franja dela. É uma loucura, mas ela acredita nisso. Nesse momento, ela sente no seu corpo que está curada da sua doença. Nesse momento, Jesus apercebe-se de que uma força saiu dele.
Que história é essa? Uma força que passa de um corpo para outro. Uma força que abre a palavra de um corpo a outro: a mulher, tremendo, cai a seus pés e lhe conta toda a verdade; Jesus responde: “Minha filha, a tua fé te salvou; vá em paz, seja curada de sua dor."
Cabe, certamente, a cada um de nós ter ouvidos para ouvir. Esta manhã, esta história ressoa em mim como uma canção muitas vezes ouvida e muitas vezes esquecida... sem continuação! Todos conhecem as primeiras palavras do evangelho de João: "No princípio era a Palavra. Ela está voltada para Deus. [Deus é a sua fonte]. Através dele, todas as coisas foram feitas. Sem ele nada existe. Ele é a vida, a luz dos homens, e não há escuridão que a possa capturar". Então João acrescenta, "e a Palavra tornou-se carne"!
Sei que estamos habituados a limitar o alcance destas poucas palavras a uma espécie de acontecimento mágico, onde Deus, o desconhecido, decide fazer um filho sob a forma de homem, como se inscrevesse os seus mandamentos mais perto de nós. Mas esta versão da encarnação é uma manobra de evasão. O que esta forma de falar de Jesus revela antes de mais nada é que a carne, a nossa carne, é o verdadeiro destino do desejo de amor do nosso Deus. A Palavra de Deus é antes de mais nada uma energia. Mesmo antes de se manifestar nos atos e palavras de Jesus, esta energia é um desejo de encontro, um encontro físico. Vem para armar a sua tenda entre nós. Quer fazer a sua casa na nossa carne. É no nosso corpo que ele se torna sensível e perceptível para nós.
Esta é a lei de todos os encontros humanos: nossos corpos devem estar realmente presentes, um ao outro, para que a palavra passe entre nós. Não há palavra viva sem presença real. A energia de amor de Deus passa através de nós.
E João (1,2-12) acrescenta: "Quando Jesus se aproxima dos seus, os seus não o recebem. Mas a todos aqueles que o recebem, ele dá o poder de se tornarem filhos de Deus; estes não nascem do sangue, nem pela vontade da carne, nem pela vontade do homem; eles nascem de Deus."
O Espírito Santo é aquela energia de amor, pairando sobre as águas desde o início. A vinda de Jesus é o cumprimento de seu desejo de nos encontrar. Deus deu a lei a Israel para que o povo descobrisse este desejo divino de habitar fisicamente nossa história e desejasse sua vinda. Jesus é o Senhor, o Cristo, o 'Kyrios', deste encontro entre o desejo de amor de Deus por todas as pessoas e nossa carne... 'E a Palavra se fez carne'.
É assim que se cumpre a vontade de Deus de fazer de nós filhos que carregam sua semelhança. É assim que o "Dia do Filho do Homem" chega até nós. É a presença carnal do desejo de Deus em nossos corpos. É essa energia que cura, desperta, nos faz ver coisas que nunca vimos antes; ouvir coisas que nunca ouvimos antes.
Ela se manifesta em pacotes de energia, que perturbam nossos corpos, nossas relações, nossos projetos, nosso conhecimento, em nós mesmos e nos outros.
Nossa fé em Jesus Cristo é reconhecer estas passagens, em nós e ao nosso redor. Significa sair de nossa indiferença, de nossos hábitos, de nossas manias de possuir, de querer saber tudo, de dominar tudo e de nossas ansiedades de não poder fazer isso. Nossa fé é construída dia a dia em acolher os efeitos desta força viva em nós e em outros.
Toda vez que fazemos o sinal da cruz, afirmamos isto. Ao colocar nossa mão na testa, lembramos que a fonte de nossa energia está acima de nossas cabeças: existimos em nome do Pai.
Ao colocar nossa mão na barriga, reconhecemos que a energia de Jesus Cristo vem de nosso ventre, onde nossos desejos, nossos projetos, os segredos de nosso próprio desejo são atados; onde nas mulheres a capacidade de fazer filhos se manifesta; onde nos homens ela nunca pára de se mover, torcer, empreender, construir e destruir; onde a fúria de viver e o pânico de perder a vida cresceram, sem que o saibamos. A Palavra de Deus não é apenas um discurso, é como uma espada que corta nossos corpos: ela nos sacode; abre um espaço para o que vem; é um sopro poderoso ou discreto que cria uma corrente de ar devastadora na rotina de nossa vida diária.
Deixamos então nossa mão cruzar nosso corpo de um lado para o outro, de nosso sol poente, onde ainda não podemos ver muito bem o que está acontecendo conosco, até nosso sol nascente, onde a vida que Deus nos deu desde o início está nascendo. Abrimos nosso espaço para o sopro do Espírito.
Quando Jesus chegou à casa de Jairo, o chefe da sinagoga, lá estava chorando e lamentando, porque a menininha estava morta. Aos doze anos de idade, ainda ninguém havia conseguido despertar nela a capacidade de viver e dar vida. Ela tinha tudo o que precisava em casa para ver e ouvir o que acreditar e fazer por Deus. Seu pai era "chefe da sinagoga".
Mas a garota era como uma lâmpada, sem ninguém ainda ligando a tomada elétrica. Tinha tudo o que precisava para brilhar; só lhe faltava a conexão com a energia de Quem nos dá a vida.
Jesus vê isto: não, a vida não deixou esta menina; ela está dormindo; sua vida está adormecida. Ele pega sua mão e diz a ela "ephhata", acorda, como foi dito a nosso respeito no dia de nosso batismo. Da mão dele para a dela, da palavra de Jesus para os ouvidos dela, a corrente agora flui.
Seus pais só têm que alimentá-la, e os três discípulos só têm que desempenhar seu papel: dêem-lhes vocês mesmos a comida, como Jesus lhes dirá. Para a vida que desperta em nós, é Deus quem nos dá isso.
Fonte: La fille de Jaire, l'homélie. Paroisse de Gradignan.
🙏 ORAÇÃO
(Cf. Oração da Coleta da Divina Liturgia Galicana)
Deus, nosso Salvador, tu alcançaste a humanidade e a despertaste do sono da morte.
Aumenta em nós a fé e, através dos mistérios da Igreja, purifica-nos de todas as
doenças do corpo, da alma e do espírito, e ressuscita-nos.
Ó Cristo, nosso Deus, que vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.
😇 SANTOS DOS DIA
- São Quintino, apóstolo da região francesa da Picardie, mártire em Amiens (+303)
Quintino (Quentin) é filho de um senador romano, teria vindo para a Gália com São Lucien, futuro bispo de Beauvais, em missão de evangelização. Estabelecido em Amiens, foi decapitado em Augusta Veromandum, capital de Vermandois, que se tornaria Saint-Quentin, sob o imperador Maximiano.
São Quentin foi um daqueles jovens romanos que, como São Crépin e São Crépinien, vieram pregar o Evangelho na Gália e ali comunicar o tesouro de fé que haviam recebido.
Fontes:
Saints du Pas de Calais. Diocèse d'Arras.
Diocèse de Soissons, Laon et Saint-Quentin
Saint Quentin Martyr dans le Vermandois (IIIe siècle), Nominis.
- São Wolfgang de Regensburg,
Bispo (✝ 994)
Monge de Einsiedeln, então bispo de Regensburg na Baviera.
Depois de uma longa vida religiosa como monge beneditino, onde foi consagrado bispo de Regensburg, aposentou-se como eremita em uma floresta onde, segundo a lenda, atirou um machado pedindo a Deus que lhe mostrasse onde construir sua cela. Ele então construiu seu abrigo onde o machado caiu e foi capaz de terminar sua vida ali em meditação. Foi assim que se tornou o padroeiro dos madeireiros após ser canonizado em 1052.
Fonte: Saint Wolfgang de Ratisbonne, Réflexion Chretienne.
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