O cego de Jericó
PRÆLEGENDUM (Sl. 30, 3-4.2)
Sede para mim, ó Deus, minha rocha e minha fortaleza,
por amor do teu nome, conduze-me e guia-me.
Em Vós, Senhor, espero, não serei confundido eternamente.
Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo,
Como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
HINO (Hino espano-moçárabico)
O primeiro e último dia,
dia radiante e esplêndido
do triunfo de Cristo!
O Senhor ressuscitado
promulga para os séculos
o édito da paz.
Paz entre o céu e a terra
a paz entre todos os povos,
paz em nossos corações.
Que o Aleluia pascal
ressoe na Igreja
peregrina no mundo
e esteja unida em louvor
harmonioso e eterno
na assembléia dos santos.
A ti seja a glória, ó Cristo,
o poder e a honra
pelos séculos dos séculos.
📖 EVANGELHO de Jesus Cristo, segundo São Lucas 18, 31-43
Naqueles dias, tomou Jesus aparte os doze, e disse-Ihes: "Eis que vamos para Jerusalém, e será cumprido tudo o que está escrito pelos profetas relativo ao Filho do homem.
Será entregue aos gentios, será escarnecido, ultrajado, cuspido;
e, depois de o açoitarem, o matarão, e ressuscitará ao terceiro dia."
Eles, porém, nada disto compreenderam; este discurso era para eles obscuro, e não penetravam coisa alguma do que lhes dizia.
Sucedeu que, aproximando-se eles de Jericó, estava sentado à borda da estrada um cego pedindo esmola.
Ouvindo a turba que passava, perguntou que era aquilo.
Disseram-lhe que era Jesus Nazareno que passava.
Então ele clamou: "Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!"
Os que iam adiante repreendiam-no para que se calasse. Porém, ele, cada vez gritava mais: "Filho de Davi, tem piedade de mim!"
Jesus, parando, mandou que lho trouxessem. Quando ele chegou, interrogou-o:
"Que queres que eu te faça?" Ele respondeu: "Senhor, fazei que eu veja."
Jesus disse-lhe: "Vê; a tua fé te salvou."
Imediatamente, viu, e foi-o seguindo, glorificando a Deus. Todo o povo, vendo isto, deu louvor a Deus.
Te louvamos, Senhor!
HOMILIA
proferida por São João, Bispo de Saint-Denis, 1961
As três leituras
A Igreja oferece três leituras para Quinquagesima - ou seja, 50 dias antes da Páscoa. Elas parecem bastante diferentes umas das outras, sem relação entre si, e nos inquietam.
A primeira é lida nas Vésperas, o sacrifício de Abraão (Gn 22,1-19). Toda vez que ouvimos a história de Abraão subindo a colina do sacrifício com seu filho Isac, sem um cordeiro para abater, e o filho pergunta a seu pai: onde está o animal do sacrifício? E quando o filho de Abraão, seu filho nascido dele, arrasta a madeira do holocausto sobre seus ombros, ficamos impressionados com a identificação deste caminho com a Via Sacra... E quando o Pai responde: Deus proverá!... o que devemos pensar?
Você certamente se lembra que no momento em que Abraão pega a faca para cortar a garganta de seu único filho, naquele momento, Deus segura a mão do pai pronto para sacrificar seu filho. Esta é a reflexão, a profecia exata do sacrifício do único Filho.
A segunda leitura é o hino à caridade que o Apóstolo Paulo nos oferece hoje (1 Cor 13, 1-13). [Esta leitura foi substituída, após a reforma litúrgica, pela de Romanos 12, 1-16].
Finalmente, a terceira leitura é o Evangelho (Lc 18,31-43).
O que as duas primeiras histórias têm em comum? Algo essencial.
Você pode dizer, coloquialmente, que Abraão "escapou" porque Deus poupou o sacrifício de seu filho. Não. Ele sacrificou Isac a seu Deus, não com a faca, mas por obediência, por sua fé, porque amava a Deus mais do que a seu filho, acreditava em Deus mais do que em si mesmo; o ato interior estava completo.
E o apóstolo Paulo, falando de caridade, nos dá o exemplo da palavra evangélica, da fé, do conhecimento, e depois acrescenta: "Mesmo que eu dê meu corpo para ser queimado, se eu não tiver caridade, é inútil" (I Coríntios 13). Como assim! Ele diz então que a verdadeira caridade, o verdadeiro sacrifício, está dentro. Estas duas leituras nos aproximam, portanto, do estranho trecho do Evangelho.
Cristo anuncia a seus apóstolos: "Eis que subiremos a Jerusalém, e tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do Homem será cumprido: zombarão dele, injuriá-lo-ão, cuspirão nele, e depois de açoitá-lo, matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará" (Lc 18,31-33).
Isto é possível? Que maior iniciação poderiam ter recebido estes apóstolos, alimentados por todas as profecias, que escutavam Cristo todos os dias?
E o que diz Cristo? Morte, sofrimento e ressurreição. Será que Ele ainda não a havia pregado, sob a forma de parábolas e mandamentos? O profeta Isaías não havia falado do "Homem de Dores"? (Is 53,3). Então, os apóstolos tinham conhecimento. Por que eles não podiam entender? Por causa de um fato simples, declarado por Cristo: "O Filho do Homem - isto é, Eu - será maltratado, Eu morrerei e ressuscitarei".
Se lhe dissessem que amanhã você faria isto ou aquilo, você não poderia entender? Os apóstolos não acreditavam na ressurreição? Eles acreditavam nela. Então por que o evangelho diz que seus ouvidos não ouviram, que seus olhos interiores não viram, que não compreenderam o significado de suas palavras? Por que suas palavras as passaram adiante? Por que elas passavam? Porque, realmente ouvindo a Palavra do Verbo, interiormente, digo interiormente, eles não aceitaram Seu sacrifício.
Abraão aceitou; em última análise, seu gesto chamado Cristo. Quem pode dar aos outros toda a sua vida exterior, se interiormente não aceitou o sacrifício, o seu ouvido fica surdo.
Uma observação final: considerem que os tempos se aproximam... para que voltem para dentro de si mesmos; a intenção interna é superior ao ato, pois se você fizer isso, os resultados externos virão como frutas maduras.
Os tempos estão chegando, meus amigos. É tempo, neste período da Quaresma, de fechar os ouvidos às coisas passageiras. E, ouvindo as palavras divinas, não se trata apenas de ouvi-las, é preciso escutá-las plenamente, assimilá-las e realizá-las. Coloque-se diante de Deus como um recipiente que recebe, não como uma bola na qual desliza o ensino da Palavra. Você diz: não quero ferir ninguém, mas se ainda houver um sentimento maligno em seu coração, o mal aí está, e um dia ele se manifestará. Você diz: eu não fiz nada de errado, mas se você tiver algo contra seu irmão, com certeza vai sair.
Venha se confessar durante a Quaresma. Comece na sinceridade do seu coração, fale a verdade diante de Deus, para receber a absolvição. E você será ressuscitado em alegria, com Cristo!
Amém.
Mgr Jean, évêque de Saint Denis [Eugraph Kovalevsky]. Trois lectures, Homélie de la Quinquagésime, 1961.
🙏 ORAÇÃO
(Cf. a Oração da Coleta da Divina Liturgia Galicana)
Ó Deus,
que te revelas às almas na caridade
e que nos ensinas através do teu Apóstolo
que todas as nossas obras, sem ela, são inúteis,
derrama em nós, pelo teu Espírito Santo esta virtude divina,
para que, conformando-nos a Vosso Filho pelo dom de nós mesmos
e pelo espírito de sacrifício, sejamos dignos de um dia contemplá-lo face a face.
Pedimos isso através de Jesus Cristo, nosso Senhor, q
ue vive e reina contigo e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.
😇 SANTO do dia
São Mansueto, bispo de Milão (+692)
Quadragésimo bispo da comunidade ambrosiana, esteve à frente da Igreja de Milão de 672 a 681. Ele experimentou as profundas implicações teológicas na visão do homem - e, portanto, na vida social - do maior debate teológico de seu tempo, o século VII. O embate era sobre a questão da vontade de Jesus: era uma só, com o divino anulando o humano, ou eram duas, humano e divino juntos (duotelitismo), ainda que o segundo fosse o mais importante? Em 680 o Concílio de Roma afirmou a ortodoxia do duotelismo, que tinha em Mansueto um acérrimo defensor em nome da defesa da dignidade humana.
Fonte: Santi e Beati.
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