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Foto do escritorFraternidade São Nicolau

Domingo da Septuagésima

Os trabalhadores da primeira e da última hora



PRÆLEGENDUM (Salmo 17, 5-7.2-3)

As dores da morte me cercam e os tormentos do inferno me assolam;

em minha aflição invoco o Senhor e de seu templo ele ouve minha voz.

Eu te amo. Senhor, fortaleza minha, meu firme apoio, meu baluarte, meu libertador.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

Como era no princípio, agora e sempre,

pelos séculos dos séculos. Amém.



HINO DA VERGONHA E DA NUDEZ DE ADÃO 

Senhor, ouvi o teu barulho no jardim e fiquei envergonhado, porque estou nu.

Rasguei em pedaços a vestimenta primitiva que teceste para mim, ó meu Criador,

e desde então aqui estou deitado na minha nudez.

Tentei me cobrir com uma vestimenta rasgada - obra de serpente

e desde então me encontro nu e coberto de vergonha.

Contemplei a beleza da árvore - e minha mente foi seduzida

e desde então me encontro nu e coberto de vergonha.

Os motores das paixões criminosas – araram minhas costas curvadas

cavando o sulco de minhas iniquidades.

 

Senhor, ouvi o teu barulho no jardim e fiquei envergonhado, porque estou nu.

Manchei a túnica com a minha carne e a cobri com manchas,

eu que fui criado à tua imagem, ó Salvador, e à tua semelhança.

Sofri o fardo das paixões carnais e corruptoras

que me entregou às obsessões do meu inimigo.

Tendo preferido, ó Salvador, a vida avarenta e miserável.

Eu sofro sob o peso que me esmaga.

Roubei o ídolo que é minha carne – de todo o prestígio dos meus pensamentos impuros e eu suporto a dor.


Senhor, ouvi o teu barulho no jardim e fiquei envergonhado, porque estou nu.

Eu só pensava na beleza exterior – descuidado do meu tabernáculo interior que carrega a marca divina.

Disfarçando de mim mesmo a deformidade das minhas paixões –

à força de ricos meios, profanei a beleza da minha alma.

Enterrei no abismo das minhas paixões toda a beleza da imagem primitiva

portanto, procure e me encontre, ó meu Salvador, como a moeda perdida.

 

Senhor, ouvi o teu barulho no jardim e fiquei envergonhado, porque estou nu.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Ouça os gemidos da minha alma – e aceite as lágrimas que meus olhos derramam,

Ó Salvador, e dá-me a salvação.

Como era no princípio e agora e sempre.

Virgem Imaculada, Mãe de Deus, tu que todo o universo glorifica, rogai incessantemente pela nossa salvação.



📖 EVANGELHO de Jesus Cristo, segundo São Mateus 20, 1-16.

Naqueles dias, contou-lhes Jesus esta parábola: "O reino dos céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu a contratar operários para sua vinha.

Tendo ajustado com os operários um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha.

Tendo saído cerca da terceira hora, viu outros, que estavam na praça ociosos, e disse-lhes: Ide vós também, para a minha vinha, e dar-vos-ei o que for justo. Eles foram.

Saiu outra vez cerca da hora sexta e da nona, e fez o mesmo.

Cerca da décima primeira, saiu, e encontrou outros que estavam sem fazer nada, e disse-Ihes: Porque estais aqui todo o dia sem trabalhar?

Eles responderam: Porque ninguém nos assalariou. Ele disse-lhes: Ide vós também para a minha vinha.

No fim da tarde o senhor da vinha disse ao seu mordomo: Chama os operários e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros.

Tendo chegado os que tinham ido à hora décima primeira, recebeu cada um seu dinheiro.

Chegando também os primeiros, julgaram que haviam de receber mais; porém, também eles receberam um dinheiro cada um. Mas, ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes últimos trabalharam somente uma hora, e os igualaste conosco, que suportamos o peso do dia e do calor.

Porém, ele, respondendo a um deles, disse: Amigo, eu não te faço injustiça. Não ajustaste tu comigo um dinheiro?

Toma o que é teu, e vai-te. Eu quero dar também a este último tanto como a ti.

Ou não me é lícito fazer dos meus bens o que quero? Porventura vês com maus olhos que eu sou bom?

Assim os últimos são os primeiros, e os primeiros serão os últimos, porque são muitos os chamados, e poucos os escolhidos."


Te louvamos, Senhor!





HOMILIA

proferida por São João, bispo de Saint-Denis, 1957.


A Décima Primeira Hora


Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.


Ontem ouvimos o relato da criação do mundo e do pecado original lido nas Vésperas a partir do Livro do Gênesis. Assim, o Antigo Testamento começa hoje e termina na Epifania com a leitura dos Profetas.


No Evangelho, Cristo nos conta a parábola dos trabalhadores da vinha. Ele contrata os trabalhadores na primeira hora do dia, depois na terceira, sexta, nona e décima primeira hora, e cada um recebe seu salário.


O que simbolizam estas horas? Primeira, terceira, sexta, nona, décima primeira? Estas são as grandes épocas e períodos da humanidade. Os Padres da Igreja olharam para estes ciclos - temos um sermão notável sobre as horas da história humana feito por Gregório o Grande, Papa de Roma. A primeira hora é a primeira geração humana, a hora do pecado original, a terceira, o dilúvio... e assim por diante. Em resumo, a história da humanidade e do mundo está dividida em doze horas, doze éons ou, como dizemos hoje, doze ciclos.


Cristo se encarnou na décima primeira hora. A era cristã é a décima primeira hora. Pertencemos a este penúltimo período, somos os que menos trabalharam, porque possuímos a graça inefável, o frescor do Espírito Santo, o poder nos sofrimentos que a Cruz nos deu... e ainda recebemos a mesma recompensa que aquela humanidade que, imersa no calor do dia e na ignorância, trabalhou na vinha de Deus. A antiguidade representa as primeiras dez horas e estamos na décima primeira. Tais são as proporções de acordo com os ensinamentos da Igreja entre aqueles que viveram antes e depois d'Ele.


Quando falamos de horas históricas, ciclos, éons, não devemos vê-los apenas em termos cronológicos; um período pode ser curto ou longo, dependendo do que o homem realiza nele. Nossa história não está sujeita apenas ao "capricho de Deus", mas à sinergia, como dizem os Padres, ou seja, às duas vontades: de Deus e do homem. Deus age respeitando nossa vontade, levando em conta nossa evolução, nossa queda e nossa ascensão, o que ganhamos no bem e perdemos no mal. É por isso que estas doze horas não podem ser medidas por datas fixas, mas são, juntamente com nossa história, as da conquista de Deus, do trabalho em sua vinha ou do deslizamento descompromissado no pecado. Nunca esquecer que estamos em um estado de perpétua evolução e regressão: estes dois movimentos coexistem. Não há uma evolução cega sempre em direção ao melhor, nem uma queda sempre em direção ao pior. Certamente, Deus tira o bem do mal feito por sua criatura, mas este último pode empurrar para ele tanto quanto para o nada e o pecado.


O pecado original não é um ato que, uma vez realizado, mergulhou o mundo passivo na iniquidade: a história do pecado se desdobra e se entrelaça com nossa salvação. Quando Cristo prevê sua Segunda Vinda no Evangelho, Ele diz, por um lado, que a boa nova será pregada até os confins da terra - levantem a cabeça, sua hora se aproxima - e, por outro lado, que a fé e a caridade esfriarão (Mt 24,9-14; Mc 13,9-13; Lc 21,12-19; cf. também Lc 18,8). Ele fala de iniquidade e graça superior adquirida, por assim dizer, a cada momento. No final dos tempos, será cada vez mais fácil ser de Cristo ou do Anticristo. Pois em ambos os lados há um aumento, uma tensão crescente, uma experiência no bem e no mal. Este é o significado destes trabalhadores na vinha de Deus. Mostra-nos que neste vinhedo não só os cristãos trabalhavam, mas também, diante de nós, trabalhadores de todos os lados.


O pecado original cometido por Adão e Eva - por todos nós, ao contrário, em Adão e Eva - ocorreu, não no plano carnal, mas no plano espiritual. Na verdade, o cerne, o núcleo era a desobediência. A fonte, a raiz de todos os pecados, está na desobediência a Deus. Eva desobedeceu, Adão e Eva desobedeceram. A raiz, a fonte é de cima e não de baixo.


Então a segunda realidade que devemos considerar é que eles estavam na plenitude da liberdade e que o pecado era um ato interiormente livre. Eu disse a palavra desobediência. Esta palavra esconde muitos aspectos de nossa vida interior. Por que Adão e Eva tiveram que ser obedientes a Deus?


Quando um homem pede um favor a um amigo, mesmo se o amigo não entende a razão, se o ama, ele responde: farei o que você pede, irei onde você quiser, não quero nenhuma explicação porque é você; confio em você, amo você e lhe obedeço. A obediência de Adão e Eva teria expressado não apenas o temor de sua dependência de Deus, mas por excelência sua amizade por seu Criador. Deus quis testar nosso amor sincero. Aquele que tinha dado tanta graça a Adão e Eva, explica a eles, lhes pede a graça de fazer algo por Ele livremente: abster-se de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Por que eles desobedeceram? Porque Eva queria ser como Deus. Ser como Ele, sem Ele... Eva não considerou a ousadia de sua ação, nem o significado do pedido de Deus. Eva desdenhou a amizade e o amor de Deus. Podemos dizer que nossos primeiros pais não amavam a Deus? Aqui devo me deter por um momento sobre esta noção do amor de Deus. Ela não é totalmente dada ao homem, temos que conquistá-la. E na profundidade do pecado original está o fato de que o homem preferiu conquistar o poder divino ao invés do amor do Senhor; sua escolha foi livre.


No início da Septuagésima, neste período de preparação e luta, gostaria que você olhasse dentro de sua consciência e se perguntasse sobre sua vida espiritual: qual é a força motriz por trás disso, receber graças de Deus, ou o aumento em seu coração, sem reserva, sem expectativa, do amor de Deus?


Amém.

La onziéme heure. Mgr Jean [Eugraph Kovalevsky], évêque de Saint Denis.

Homelie pour la Septuagésime, 1957.



Ide vós também para a minha vinha.

IMMOLATIO

(Prefácio gregoriano)

É verdadeiramente digno e justo, equitativo e salutar dar-Lhe graças em todos os momentos e em todos os lugares, Senhor Santo Todo-Poderoso e Eterno Pai.

Do nada se tira o céu e a terra com a sua Palavra co-eterna.

Ordena o universo pelo seu sopro divino, dá-lhe vida e a sua luz ilumina e distingue a unidade. No sexto dia Vós moldais o homem a partir do barro e esculpi-o à Vossa imagem e semelhança para que no abençoado sétimo dia ele se possa consagrar a Vós, Ó Bondade inesgotável. Mas, atraído pela astúcia da serpente em pecado, ele torna-se prisioneiro da morte, arrastado, acorrentado pelas paixões para o cativeiro do príncipe da morte.

A tua paciência e amor ao homem trazem-no de volta por doze passos, doze vezes, doze horas, redimindo-o através do Teu Filho nosso Senhor Jesus Cristo, no Teu reino onde, longe da amargura mortal, na doçura da vida cantam os anjos a Ti, os arcanjos aclamam-Te, os principados, os poderes, os tronos, os querubins e os serafins flamejantes confessam Teu Nome, proclamando Tua Majestade num transporte de alegria, dizendo:


Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus do universo!
O céu e a terra proclamam a tua glória.
Hosana nas alturas!
Bendito o que vem em nome do Senhor!
Hosana nas alturas!


🙏 ORAÇÃO

(da Coleta, da Divina Liturgia Galicana)


Senhor, escutai com misericórdia as orações de vosso povo que, setenta e sete vezes, chora seu exílio do paraíso e lamenta seu cativeiro em uma terra estrangeira distante da Jerusalém celestial.

Liberte-nos para a glória de seu Nome e através de sua Ressurreição da morte cheia de amargura, ó Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amém.





😇 SANTOS do dia


São Cirilo, o Grande, papa de Alexandria, Pai da Igreja (+444)

Cirilo (370-444), que sucedeu a seu tio Teófilo, bispo de Alexandria, no Egito, entre 385 e 412, foi protagonista absoluto na Igreja da primeira metade do século V. Enfrentou os adversários do Cristianismo com a mesma determinação com que lutou contra as tendências teológicas dentro da própria Igreja. Escritor prolífico e polêmico, não se esquivou das disputas contra pagãos e judeus e tornou-se referência nas disputas teológicas que antecederam e se seguiram ao Terceiro Concílio Ecumênico, celebrado em Éfeso em 431. Naqueles anos particularmente difíceis para a Igreja, Cirilo, apesar de algumas situações ainda obscuras do ponto de vista histórico, governou a Igreja de Alexandria no Egito, defendendo arduamente a ortodoxia.


"Acho muito surpreendente que haja pessoas que realmente se perguntem se a Santíssima Virgem deveria ser chamada de Mãe de Deus. Pois se nosso Senhor Jesus é Deus, como poderia a Virgem que o carregou e o deu à luz não ser a Mãe de Deus? Esta é a fé que nos foi transmitida pelos Santos Apóstolos, mesmo que não usassem esta expressão". (São Cirilo - Carta aos monges do Egito em 431).



Santas Maura e Brígida, mártires em Touraine (+503)

A história (lenda?) conta-nos que Moor e Brigid eram duas princesas escocesas que fizeram uma peregrinação a Roma e Jerusalém para cumprir um voto. No regresso, por volta do ano 514, foram atacados por bandidos em Balagny, perto de uma fonte onde descansavam. Como muitos milagres aconteceram em seu túmulo, a rainha Bathilde quis que seus restos mortais fossem transferidos no ano 654 para a abadia de Chelles que ela acabara de criar. Chegando a Nogent, a carroça puxada por bois recusou-se teimosamente a prosseguir e parou no cruzamento das chamadas “virgens” em Nogent. Seus restos mortais foram sepultados na igreja de Nogent, da qual são padroeiros desde então. A cidade de Nogent sur Oise foi chamada de Nogent les Virginies até 1906.


São João de Réomé, Eremita em Auxois (+539)

João de Réomé nasceu em Dijon, capital da Borgonha. Escolheu primeiro a vida eremítica no país de Auxois, na Borgonha, num local deserto, aconselhando-se nos mosteiros da região. Chegaram até ele discípulos, pelos quais foi incógnito para o mosteiro de Lérins, depois de ter fundado um mosteiro para eles, mas a pedido do bispo, regressou a Réomé, introduzindo no mosteiro que havia fundado a regra monástica de Santo Macário.


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