Domingo da Sexagésima
- Fraternidade São Nicolau
- 4 de fev. de 2024
- 8 min de leitura
A parábola do Semeador
PRÆLEGENDUM (Sl 43, 23-26, 2)
Acordai, Senhor, por que dormis?
Levantai-Vos, não nos rejeiteis para sempre.
Por que desviais a vossa face e Vos esqueceis de nossa angústia?
Nosso corpo adere à terra.
Levantai-Vos, Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.
Ó Deus, com os nossos ouvidos, ouvimos; nossos pais no-lo contaram.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
📖 EVANGELHO de Jesus Cristo, segundo São Lucas 8, 4-15
Naquele tempo, tendo-se juntado uma grande multidão de povo, e, tendo ido ter com ele de diversas cidades, disse Jesus esta parábola: Saiu o semeador a semear a sua semente; e, ao semeá-la, uma parte caiu ao longo do caminho, e foi calcada, e as aves do céu comeram-na. Outra parte caiu sobre pedregulho, e, quando nasceu, secou; porque não tinha humidade. A outra parte caiu entre os espinhos, e logo os espinhos, que nasceram com ela, a sufocaram. Outra parte caiu em boa terra; e, depois de nascer, deu fruto, cento por um. Dito isto, exclamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Os seus discípulos, perguntaram-lhe o que significava esta parábola. Ele respondeu-lhes: A vós é concedido conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos outros ele é anunciado por parábolas; para que vendo não vejam, e ouvindo não entendam. Eis o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão ao longo do caminho, são aqueles que a ouvem; mas depois vem o demônio, e tira a palavra do seu coração para que não se salvem crendo. Aqueles em que se semeia sobre pedregulho, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram; mas não têm raízes; até certo tempo creem, mas, no tempo da tentação, voltam atrás. A que caiu entre espinhos, representa aqueles que ouviram a palavra, porém, indo por diante, ficam sufocados pelos cuidados, e pelas riquezas, e deleites desta vida, e não dão fruto. Porém, a que caiu em boa terra, representa aqueles que, ouvindo a palavra com coração bom e perfeito, a retêm, e dão fruto pela paciência.
Te louvamos, Senhor!

HOMILIA
por São João, bispo de Saint-Denis
Os três combates espirituais
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!
A Sexagesima é o segundo domingo de preparação para a Quaresma. Quarenta dias de Quaresma. Este renascimento interior total das nossas almas, este segundo batismo que renovamos todos os anos, não na água, mas na penitência, é também um tempo de luta e de conquista espiritual, em que a última palavra pertence à Cruz de Cristo, que abre a vitória da Ressurreição. Mas se não quisermos ficar à margem da Ressurreição de Cristo, se quisermos ser verdadeiramente ressuscitados n'Ele, sigamos fielmente os ofícios quaresmais, mergulhemos no ensinamento da Igreja, porque cada uma das suas palavras, cada um dos seus ritos ajudar-nos-á a prosseguir esta luta e a purificação das nossas almas.
Cristo propõe-nos a parábola da semente e do semeador e, ao dizer isto, grita: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça"; mais adiante, acrescenta: "A vós foi dado conhecer o mistério do Reino de Deus, mas aos outros só é proposto por parábolas". "A vós, apóstolos, revelo os mistérios do Reino". E, no entanto, quando Ele explica esta parábola do grão que caiu na estrada, em terreno pedregoso, em terra onde cresce mato, ou do grão que caiu em terra boa, a explicação parece-nos surpreendentemente simples. Onde está, então, esse mistério do Reino de Deus, essa dificuldade que o oculta aos de fora? Porque é que o Senhor não falou abertamente, como no Sermão da Montanha? Porque, na verdade, esses símbolos aparentemente simples não são tão simples na prática.
O que é que significa esta terra boa ou má, este solo que recebe as sementes da graça divina? Essa terra é a nossa alma. Deus dá-nos a graça e a palavra de vida, Deus dá-nos os sacramentos; cabe-nos a nós cultivarmos o nosso coração, a nossa mente e o nosso espírito para que a semente divina dê fruto. Não somos bem-sucedidos na vida espiritual porque não compreendemos o mistério do Reino, que floresce na labuta, na luta interior e na aquisição do conhecimento da nossa alma. É o mistério de duas vontades, a divina e a humana; Deus semeia, o homem cultiva. Sem trabalho pessoal, as melhores palavras da Palavra, as mais fortes graças de Deus, não amadurecerão a nossa salvação.
Cristo mostra-nos três categorias de almas.
Começa por aquelas que caem à beira do caminho e são apanhadas pelo demônio. Que imagem é esta do caminho? Nosso Senhor responde-nos: são almas incapazes de parar a vagueação dos seus pensamentos, "almas ociosas", segundo a expressão de Santo Efrém. O que podemos fazer para evitar que o demônio apague as palavras do nosso coração? A imagem da estrada dá-nos uma explicação.
A primeira batalha que devemos empreender para impedir que o demónio se apodere das palavras de Cristo nos nossos corações é a batalha contra os nossos pensamentos. O inimigo penetra através dos pensamentos e não através dos desejos. No início da vida espiritual, não podemos dominar os nossos desejos. Que se calem os falsos mestres! Podemos facilmente dominar um desejo carnal, um desejo de repouso, de santidade ou de grandeza?
A batalha começa nos nossos pensamentos. Antes de mais, meus amigos, vamos parar os pensamentos que vagueiam à esquerda e à direita, dentro de nós. Como é que o podemos fazer? Através do silêncio interior? Isso é demasiado difícil. Podemos fazê-lo concentrando-nos num único pensamento, numa única ideia. Tente, por exemplo, plantar um pensamento no centro do seu dia e, assim que fugir, volte a ele. Porque se deixarmos que os pensamentos nos invadam e se choquem dentro de nós, perdemos toda a defesa contra o demónio. E as palavras mais luminosas de Cristo ser-vos-ão retiradas. Qualquer ser pode alimentar um pensamento intenso, se este for sustentado por um desejo. Digamos que um homem quer ganhar dinheiro ou sofrer uma grande paixão, boa ou má, o desejo atormentar-lhe-á o espírito e, de manhã à noite, noite e dia, pensará em obter o que procura. Não desejamos o céu... ou desejamos tão pouco que esse desejo de Deus não tem força para suscitar um único pensamento. Os nossos pensamentos devem preceder e apoiar o nosso desejo do céu. No mundo, é o desejo que move o pensamento e o sentimento que o move; na vida espiritual, é o pensamento que faz nascer o desejo. Fixar o pensamento num único assunto, lutar para que o segundo ou os segundos assuntos se realizem.
O homem é todo ele contradição: ansioso, tranquilo, alegre, precipita-se para isto, regressa àquilo, preocupa-se com a família e com os negócios, desanima-se com a sua fraqueza espiritual, está triste ou feliz... Uma série de preocupações, desejos ou pensamentos agarram-se a nós, uns em cima dos outros. No início do caminho, tenha em conta os seus sentimentos, não os maltrate, mas crie um pensamento: "Deus é bom", ou: "Ele salva-nos", e prenda o seu olhar interior a este suporte invisível. Um escritor aguenta o tempo necessário para exprimir o seu pensamento com precisão; imita-o interiormente e, quando tiveres dominado a tua mente, quando as idas e vindas do caminho já não forem os teus senhores, o diabo não conseguirá tirar a semente do Evangelho. Queres chegar lá, rezando sempre: "Jesus, tem piedade de mim"? Experimentai, e cortareis os braços e as mãos do príncipe da iniquidade e dos seus servos.
A segunda luta: a terra pedregosa e seca. Depois de terdes lutado contra os pensamentos errantes e de terdes fixado o vosso olhar num único pensamento, não penseis, porém, que o vosso coração será imediatamente aquecido pelo desejo de Deus. Sim, terás aniquilado os desejos exteriores, mas não possuirás ainda o desejo espiritual. A vossa alma não estará inflamada, levada pelo ímpeto da vida em Deus. Por outro lado, o domínio dos vossos pensamentos e, através dos vossos pensamentos, dos vossos desejos, esvaziará e secará a vossa alma, tornando-a quase indiferente, porque, separados do mundo, ainda não estareis conscientemente enxertados na vida eterna. Cuidado! Aqui surge uma luta impiedosa: reprimir os pensamentos, parar os sentimentos pode endurecer o coração e abrir a porta a uma categoria de sentimentos ditos morais, provocando uma certa dureza para consigo e para com os outros. Esta segunda luta deve então ser travada contra aquilo que endurece a alma. Para além da concentração num único pensamento, é preciso prosseguir a ação da caridade, utilizando diversos meios: orações, cânticos, hinos, penitência, paciência, compreensão, doçura, quebrando tudo o que torna o nosso coração de pedra.
A terceira luta: contra as ervas daninhas. Atingida a terceira etapa, tornamo-nos terra macia, um coração de carne. Sentimos a doçura da graça divina. A nossa alma amolecida pode então deslizar para a preguiça ou para os prazeres de segunda categoria e, ao lado dos dons divinos, produzir ervas daninhas. Não pensem que a graça, se for eficaz, elimina a possibilidade dos prazeres terrenos. Vimos pessoas que se elevaram à oração sublime, taumaturgos, visionários celestes, cometerem os pecados mais vulgares, porque a vitalidade da graça, semelhante a humidade, faz crescer em nós não só as plantas celestes, mas, precisamente por causa dessa vitalidade que ela nos confere, se não estivermos atentos, não impedirá a embriaguez insidiosa deste mundo. Para evitar este terceiro ataque, a sobriedade, a humildade e a simplicidade são essenciais. Não deixemos que este terceiro período nos intoxique!
Assim, a primeira batalha é contra os muitos pensamentos que nos desviam do caminho, a segunda contra esse estado de secura, de dureza que parece moral... o coração vazio..., a terceira contra a facilidade e a preguiça espirituais.
O mistério do Reino aplicado irrefletidamente a uma alma perdê-la-á completamente. Como poderá ela, por exemplo, cultivar a sobriedade se estiver num estado de secura, ou abrandar o seu coração se ainda for presa de pensamentos múltiplos? Nada pode ser mais perigoso.
No limiar do caminho espiritual, seria insensato gloriarmo-nos na nossa fraqueza e brincar com a humildade, mas o agricultor da boa terra poderá, após um esforço perseverante, exclamar com o apóstolo Paulo: "Glorifico-me na minha fraqueza para que o poder de Cristo atue em mim".
Amém!

ORAÇÃO
(da Post-Communion, da Divina Liturgia Galicana)
Misticamente semeados com o puríssimo Corpo do Verbo Pré-Eterno, demos-Lhe ações de graças e peçamos-Lhe, apesar da nossa extrema enfermidade, a força imperecível e vivificante do Seu Sangue, para que sejamos salvos da inundações de paixões carnais: Oremos ao Senhor!
Nós Vos rogamos, Deus Todo-Poderoso, permiti que aqueles a quem alimentais com os Vossos sacramentos, sejam Vossos servos, devotos como Paulo e atentos como Maria, dando frutos abundantes de fé, esperança e caridade, ó Unidade Tríplice,
glorificada pelos séculos dos séculos. Amém.
SANTOS do dia
Santo Aventino, eremita em Troyes (+538)
Nasceu na Gália, na segunda metade do século V, em Bourges. Graças à educação cristã que recebeu, Aventino foi considerado modelo desde muito jovem. Ainda adolescente visitou o bispo São Lobo de Troyes que no ano 451 salvou a cidade da invasão de Átila oferecendo-se como refém. O prelado o mantém consigo como colaborador. Juntos, os dois santos resgatam o maior número possível de prisioneiros de guerra estrangeiros, cuidando desses homens escravizados. Lupo morreu em 479 e foi sucedido por São Cameliano, que nomeou Aventino como ecônomo. No entanto, ele decide se retirar para uma vida de eremita. Embora não tivesse inclinação para cargos de comando, pouco tempo depois foi eleito superior da comunidade onde foi acolhido. Sua fama, porém, volta a se espalhar entre as pessoas que o visitam com frequência. Ele decide então retirar-se para um lugar solitário ao longo do Sena, a sete milhas de Troyes. É o Bispo Cameliano quem lhe confere as ordens sagradas. Viveu o último período de sua vida celebrando missas perto de sua cabana para os habitantes locais.
São Rabano Mauro, Abade de Fulda, bispo de Mainz (+856)
Rabano Mauro foi um dos protagonistas da cultura carolíngia. Nascido em Mainz, Alemanha, em 780, estudou na famosa escola do mosteiro beneditino de Fulda. Foi então para Tours, onde Alcuíno foi seu professor. Retornando à Abadia de Fulda, tornou-se seu guia e levou-a ao máximo esplendor. Em 847 tornou-se arcebispo de Mainz até sua morte em 856. Conhecido como «Magister Germaniae», é considerado o mais erudito teólogo ocidental do seu tempo. Belo poeta, é autor de «De laudibus sanctae Crucis» e alguns também lhe atribuem o hino «Veni criador».
São José, mártir em Aleppo (+1686)
Martirizado pelos muçulmanos na Síria. Preso em Aleppo, foi conduzido ao local de sua execução com contínuas chicotadas sob o escárnio de uma multidão delirante, e depois foi decapitado.
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