Neste 10º Domingo após o Pentecostes, conforme o Calendário Litúrgico Galicano, recordamos o Evangelho do fariseu e do publicano.
📖 Leitura do Evangelho de Jesus Cristo, segundo São Lucas 18, 9-14
Naqueles dias, Jesus também contou esta parábola para os que achavam que eram muito bons e desprezavam os outros:
— Dois homens foram ao Templo para orar. Um era fariseu, e o outro, cobrador de impostos (publicano). O fariseu ficou de pé e orou sozinho, assim: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.”
— Mas o cobrador de impostos ficou de longe e nem levantava o rosto para o céu. Batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!”
E Jesus terminou, dizendo:
— Eu afirmo a vocês que foi este homem, e não o outro, que voltou para casa em paz com Deus. Porque quem se engrandece será humilhado, e quem se humilha será engrandecido.
Glória a Ti, Senhor! Glória a Ti!
Um lugar comum
Homilia de nosso bispo, Mons. Jonas
Todos nós conhecemos esta parábola, uma espécie de lugar-comum no Cristianismo, tão famosa na época de Jesus como é hoje: a hipocrisia religiosa. Muitas pessoas se afastaram da religião por esse motivo. Porém, o fariseu, antes de se tornar a imagem negativa do orgulho espiritual, é, na tradição judaica, o guardião da tradição, a elite espiritual de referência, especialmente durante o tempo da vida terrena do Filho de Deus. Muitos fariseus reconheceram em Jesus o Messias e o Filho de Deus: Nicodemos, Simão o fariseu, Simão de Cirene, São Paulo... E, por representarem o que há de melhor na ortodoxia judaica, são colocados pelo Senhor diante de suas responsabilidades. Quanto ao publicano, todos sabem que ele é o pior desta sociedade, o traidor do povo, o colaborador do império romano. Nessa categoria odiada, Jesus também encontrou discípulos: Zaqueu ou Mateus, o cobrador de impostos de Cafarnaum.
Nosso Senhor Jesus Cristo não faz distinção entre pobres e ricos, dignos e indignos, pecadores e justos. O Filho de Deus e Filho do Homem é a imagem perfeita do Pai que derrama a sua misericórdia uns sobre os outros, num magnífico Sol de misericórdia que atinge a todos. Isso não justifica o traidor nem o hipócrita: mas ambos são amados e chamados à salvação. Ao denunciar o orgulho espiritual, o Senhor quer salvar os orgulhosos e abrir-lhes os olhos misericordiosamente; olhando com amor para o traidor, Ele o convida ao arrependimento. Todos são chamados à salvação e podem ser salvos, se ouvirem a voz de seu misericordioso Senhor. Todos nós podemos ser salvos pelo arrependimento.
O Bondoso Senhor está lá, não para os justos, pecadores, fariseus ou cobradores de impostos; Ele está lá para “pessoas”, como diz a parábola: “dois homens subiram ao Templo para orar”. Deus se interessa pelas pessoas, porque se interessa pelo selo de sua imagem pessoal presente em cada homem e mulher. A mensagem pascal está orientada para a emergência da pessoa humana, transcendendo virtudes e vícios: a pessoa é ela mesma, e o Senhor se reconhece nela como à sua imagem. E o arrependimento faz a distinção entre o pecador e o pecado, entre a pessoa e o que ela pode ter pensado, dito ou feito. Mas a emergência da pessoa - uma grande revolução provocada pelo Filho de Deus - supõe outra subversão.
Cristo, com sua pedagogia usual, escolhe rebaixar o justo - o fariseu - e elevar o que é justamente desprezado. Essa inversão, ou essa atualização de valores, caracteriza o método evangélico. A Mãe de Deus canta: “Desconcertou os corações do soberbos. Ele derrubou os poderosos de seu trono e ergueu os humildes” (Lucas 1, 51-52). Aqueles que são justamente respeitados são desestabilizados; aqueles que são desprezados - e há alguns no Evangelho - são honrados. O Evangelho subverte os valores deste mundo: estabelece uma nova ordem de valores, a do Reino, onde o critério da verdade é a humildade - não perante os homens - mas perante Deus: "Senhor, tu me sondaste e me conheces." (Salmo 138/139).
Que nosso Bondoso Deus acolha o louvor do nosso coração sincero. Amém.
🙏 Oração
Deus todo-poderoso, eterno e misericordioso, cria em nós um espírito de humildade, generosidade e fidelidade para que possamos servi-lo com um coração puro e leal. Por nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho e Senhor, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.
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